quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Agricultura Urbana: Hortas comunitárias se popularizam cada vez mais em Berlim

Agricultura urbana em Berlim
Agricultura urbana em Berlim. Foto Verlag W. Wächter / Brigitte Einführ / Der Spiegel

Seja no telhado de um shopping, seja em um antigo aeroporto, as hortas estão se espalhando por Berlim. Cada vez mais, moradores trabalham a terra para cultivar tomates, batatas e… vínculos sociais, em uma cidade onde ainda parece haver espaço para tudo. Matéria da AFP, no UOL Notícias.
Alguns agriões esmirrados resistem bravamente às chuvas e aos fortes ventos que varrem as pistas de aterrissagem de um aeroporto fechado em outubro de 2008 e transformado em um amplo parque para os berlinenses.
Quando chega o bom tempo, pepinos, aipos e manjericão crescem à sombra dos girassóis nesse jardim comunitário. Recentemente, uma colmeia instalada no meio dos pequenos lotes começou a produzir o primeiro mel a levar o selo do antigo aeroporto de Tempelhof.
De dia, carrinhos de mão e mangueiras são usados a todo vapor nas matas de ervas aromáticas. Ao anoitecer, amigos brindam com cerveja para celebrar o espírito coletivo e a amizade.
“Allmende Kontor” e o vizinho “Rübezahl Garten” são duas das inúmeras hortas que cresceram como grama na capital alemã. No bairro popular de Wedding, uma associação planeja instalar cultivos de cenouras e morangos no telhado de um supermercado local.
“Trata-se de cultivar hortaliças e também de participar de um projeto coletivo, de fazer coisas juntos. É um lugar onde todo mundo participa”, explica Burkhard Schaffitzel, um dos iniciadores do “Rübezahl Garten”.
“As pessoas vêm de todos os horizontes, de imigrantes turcos a estudantes, passando por aposentados”, conta Gerda Münnich, uma entusiasta da “Allmende Kontor”.
Esse é exatamente o segredo do sucesso. Sua horta já conta com cerca de 300 “arrendatários” e tem uma lista de espera de mais de 200 pessoas. Os responsáveis pelo jardim pagam 5.000 euros por ano à Prefeitura para utilizar seu pedaço de terra e fazem apelos por doações para manterem a iniciativa.
Legumes e verduras crescem em baldes e caixas de madeira, porque a Prefeitura não permite as plantações diretamente no solo no antigo aeroporto. Alguns optaram pela originalidade. Sapatos usados, mochilas, ou até uma velha cadeira de escritório: vale tudo para garantir seu espaço na horta.
Horta, um lugar de socialização A escolha pela jardinagem cria um estilo de vida e, ao redor dela, surgem “pequenos lugares”. O mecânico de bicicletas “Ismael” oferece seus serviços em um reboque velho e amassado, instalado no terreno, enquanto uma “praça do povo”, no centro do jardim, permite que a comunidade possa assar salsichas quando o grupo organiza festas.
“A horta não é apenas um lugar dedicado a uma atividade de auto-subsistência, mas um lugar de socialização”, explica a socióloga alemã Christa Müller, que escreveu um livro sobre o “urban gardening” (agricultura urbana, em tradução livre).
O fenômeno é internacional. Desde seu início nos bairros pobres de Nova York, já foram criadas hortas comunitárias em Paris, Montreal e outras cidades. Na capital alemã, houve um empurrão muito particular: a reunificação da cidade, após a queda do Muro no final de 1989, que dividiu Berlim por 28 anos. A mudança deixou uma grande quantidade de espaços vazios e abandonados.
“Londres e Paris estão saturadas. Aqui ainda temos lugar para plantar verduras”, comemora Schaffitzel.
Para muitos, criar uma horta coletiva também é uma iniciativa cidadã. “Fazemos política no meio das alfaces”, brinca Gerda Münnich, que, depois de passar sua carreira diante das telas dos computadores, decidiu se dedicar às abóboras e aos repolhos.
“É se apropriar um pouco da cidade. É participar da decisão coletiva. Esse pequeno terreno que eu cultivo é um pedacinho da cidade que me pertence”, diz ela, com orgulho.
Para a socióloga Christa Müller, esse movimento é uma espécie de contrapeso à sociedade neoliberal.
Esses novos urbanos “ficam felizes de produzir algo eles mesmos, no lugar de encher o carrinho no supermercado”, considera Burkhard Schaffitzel, do “Rübezahl Garten”.
yap/aro/jmr/js/tt-mvv/dm
EcoDebate, 29/01/2014

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

O século das migrações inversas

Muitos começam a deixar as grandes cidades em busca de qualidade de vida no interior do país

Rafaela Bez

Acordar, levantar, tomar café da manhã, pegar ônibus, trabalhar, almoçar, trabalhar de novo, pegar ônibus, voltar para casa, jantar, ver televisão, tomar banho, dormir. Em meio a isso: estresse, violência, correria, poluição, alimentação incorreta, insônia, preocupação. Essa é a rotina da maioria da população que vive nas grandes metrópoles. Mas, nos últimos anos, algumas pessoas estão revertendo essa situação e fazendo com que o campo, as praias, a roça e a natureza voltem a ter cada vez mais habitantes. O mundo vive a inversão do êxodo rural.
Uma vontade intensa de viver com simplicidade, em comunidade e em comunhão com a natureza. Esses são alguns dos vários fatores que fizeram com que a socióloga Gisele Carneiro, que nasceu no Rio de Janeiro, mudasse primeiro para Curitiba e, recentemente, se transferisse para uma aldeia indígena, no Espírito Santo, transformando o seu estilo de vida. “A cidade grande oferece inúmeras possibilidades culturais, conforto, consumo, opções de lazer e facilidades diversas. No entanto, é preciso pagar um preço alto para tanta comodidade: a distância da natureza, que desumaniza o homem, o apelo capitalista ao consumismo, as relações superficiais entre as pessoas, a desconfiança, o medo, a correria do dia a dia, que prejudicam a reflexão, a escuta, o sentir e a observação de perceber o que está à nossa volta”, ressalta Gisele.

Nem todos querem ou estão preparados para uma mudança radical na questão da mobilidade. É preciso exercitar o desapego do conforto e abdicar das comodidades que o mundo urbano oferece. Há um encanto por cidades grandes. Ainda são fortes o preconceito e a desvalorização das pessoas que vivem e trabalham em áreas rurais.  “Para contribuir com esta visão preconceituosa e mítica, há todo o apelo dos meios de comunicação, a própria literatura e o senso comum que coloca o indígena como preguiçoso ou o caipira como ‘jeca’, atrasado, ignorante, alvo de chacota. É preciso afirmar e reafirmar o valor do trabalho rural, problematizando o senso comum, fazer uma reflexão crítica sobre o que é qualidade de vida, solidariedade, valor do trabalho e o cuidado e a comunhão com a natureza”, explica a socióloga.

Em uma pesquisa nacional do Programa Luz para Todos, do Governo Federal, que é coordenado pelo Ministério de Minas e Energia, 10,6 milhões de brasileiros que foram beneficiados pelo projeto, 4,8%, ou 96 mil em todo o país, voltaram a viver no campo por identificarem a oportunidade de ter ali uma qualidade de vida maior do que nas grandes cidades.

Atualmente, o apelo desse tipo de alternativa de vida segue nessa direção, na medida em que o interior do país se transforma. Antes caracterizado pelo isolamento e pelas dificuldades de comunicação, hoje a televisão praticamente se universalizou, assim como o acesso ao telefone celular. Além disso, a internet também está chegando aos rincões mais profundos do país. Ao mesmo tempo se pode, com variações é claro, ter acesso aos bens de consumo.

Dessa maneira, a fronteira entre o urbano e o rural, por exemplo, vai ficando cada vez mais tênue. Além disso, novas, boas e às vezes melhores oportunidades de emprego estão surgindo em localidades distantes dos grandes centros urbanos e que vão atraindo as pessoas. “As cidades maiores, ao mesmo tempo em que oferecem mais facilidades e oportunidades em termos de acesso à saúde, educação e trabalho, sofrem dos problemas próprios das metrópoles: poluição, aumento da violência, problemas relacionados à mobilidade, estresse e correria.” É o que explica o sociólogo do Centro de Pesquisa e Apoio ao Trabalhador André Langer. Para ele, a maior dificuldade da sociedade hoje, em modificar seu estilo de vida, é não saber renunciar a algumas facilidades, como cinema, shopping centers e a possibilidade de comprar as coisas na hora em que fazem falta.

Há também quem mude seu estilo de vida divido as novas oportunidades de emprego originadas no interior ou nas pequenas cidades. “A maior dificuldade talvez seja a adaptação. É preciso estar aberto e não oferecer resistência a esse novo estilo de vida possível. Às vezes, somos viciados em nossos antigos hábitos, o que pode dificultar a mudança. É preciso ter ‘espírito’ aberto ao novo”, afirma o comerciante Valdemir Chimborski, que nasceu em Minas Gerais, morou em Curitiba por mais de 20 anos e hoje reside na cidade de Pitanga (PR), que tem um pouco mais de 8 mil habitantes. Ele mudou-se com a esposa e o filho, de 5 anos, pois sua mulher desejava trabalhar em uma empresa da região. Para isso, deixaram sua vida em Curitiba e partiram rumo ao norte do estado. “A qualidade de vida da população pode ser impulsionada por uma mudança de local de moradia. O motivo principal de mudança de Curitiba para uma cidade menor, além da busca por novas oportunidades, foi também a procura de um novo estilo de vida, onde se possa ter uma maior tranquilidade”, explica Chimborski.

domingo, 26 de janeiro de 2014

Aprovado projeto que regulamenta profissão de artesão


O Brasil tem hoje nove milhões de artesãos espalhados pelas grandes e pequenas cidades, mas a atividade não é reconhecida como profissão. Para garantir direitos a esses cidadãos, a Comissão de Cultura aprovou por unanimidade nesta quarta-feira (18), o relatório da deputada Luciana Santos (PCdoB-PE) ao projeto do Senado Federal, que regulamenta a profissão de artesão.

O projeto também estabelece diretrizes para as políticas públicas de fomento ao artesanato, institui a carteira profissional da categoria e autoriza o Executivo a criar a Escola Técnica Federal do Artesanato.
arte149003Para construir seu parecer, a deputada buscou entidades ligadas ao artesanato e realizou audiência pública para conhecer a demanda do setor. Segundo ela, a aprovação da matéria é mais um passo de um processo para garantir o reconhecimento do artesão como profissional e as condições necessárias para que a atividade seja fortalecida.

"Há tempos que os artesãos de todo o País se empenham na defesa do direito de seu enquadramento profissional. Contemplar as manifestações culturais brasileiras tão bem traduzidas pela riqueza da nossa arte popular deve ser preocupação não só das políticas culturais, mas do projeto de desenvolvimento social e de crescimento econômico deste País", destacou a deputada.

Luta de anos
Para Esmeralda Reis, presidente da Associação da Feira da Torre, a aprovação na Comissão de Cultura, é uma resposta ao anseio dos artesãos. "É a legalidade dos artesãos brasileiros. Hoje somos autônomos, não temos direitos garantidos. Essa aprovação é a resposta de uma luta que vem de anos", afirmou.

Adivan Enéias, presidente da Federação das Associações de Artesãos do Distrito Federal e secretário da Confederação Nacional dos Artesãos, acredita que a regulamentação da atividade vai significar uma melhora de vida para a categoria.
Segundo ele, muitas técnicas têm se perdido ao longo dos anos por falta de incentivo. "Não temos políticas públicas que garantam que os mestres passem seu conhecimento aos mais jovens e isso se perde. Esse é o primeiro passo e esperamos que com a formalização da categoria a gente chegue a 13 milhões de artesãos reconhecidos."
A matéria agora segue para apreciação nas comissões de Trabalho e de Administração e Serviço Público.


Da Redação em Brasília
Com informações da Comissão de Cultura

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Dilma assina Decreto nº 8163/2013 - Pronacoop Social

No dia 20 de dezembro de 2013 foi assinado pela Presidenta Dilma o Decreto nº 8163/2013, que institui o Programa Nacional de Apoio ao Associativismo e ao Cooperativismo Social – PRONACOOP SOCIAL.

São objetivos do PRONACOOP SOCIAL:
“I - incentivar a formalização dos empreendimentos econômicos solidários sociais em cooperativas sociais;
II - promover o fortalecimento institucional das cooperativas sociais e dos empreendimentos econômicos solidários sociais, e a qualificação e formação dos cooperados e associados;
III - promover o acesso ao crédito;
IV - promover o acesso a mercados e à comercialização da produção das cooperativas sociais e dos empreendimentos econômicos solidários sociais;
V - incentivar a formação de redes e cadeias produtivas constituídas por cooperativas sociais e empreendimentos econômicos solidários sociais;
e VI - monitorar e avaliar os resultados e alcances sociais e econômicos das políticas de apoio ao cooperativismo e ao associativismo social”.

Para coordenar e apoiar o processo de implementação das ações do PRONACOOP SOCIAL, o Decreto nº 8163/2013 prevê a criação de um Comitê Gestor, com a participação de diversos órgãos do governo, dentre eles o Ministério da Saúde, e da sociedade civil.

A instituição do PRONACOOP SOCIAL é resultado das reinvindicações dos movimentos sociais e dos projetos de inclusão social pelo trabalho voltado às pessoas em situação de desvantagem social, incluindo aquelas com a experiência do sofrimento ou transtorno mental e/ou com necessidades de cuidado decorrentes do uso de álcool e outras drogas.


Dessa forma, o PRONACOOP SOCIAL sinaliza a possibilidade de avanços no campo do associativismo e do cooperativismo social brasileiro. A expectativa da Coordenação Geral de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas é que o PRONACOOP SOCIAL possa fortalecer, qualificar e fomentar as iniciativas de geração de trabalho e renda, os empreendimentos econômicos solidários e as cooperativas sociais em curso no âmbito do SUS.