segunda-feira, 25 de novembro de 2013

As pespectivas de trabalho e a economia solidária para a juventude

Por Ligia Scarpa Bensadon (publicado em http://www.agenciajovem.org)

Neste nosso primeiro diálogo vamos conversar um pouco sobre as perspectivas de trabalho e de vida e o que a economia solidária traz neste campo para os jovens. Esperamos que a economia solidária possa ser uma realidade para melhorar a vida dos jovens, na construção da sociedade que queremos: justa, solidária e sustentável!

Aquela conhecida pergunta “o que você vai ser quando crescer” está rodando a sua realidade? Já sabe o que gosta de fazer ou não gosta? Por mais que o futuro possa parecer indefinido é interessante conhecer algumas realidades para ter uma opinião própria e poder desenhar e sonhar com o seu melhor futuro.

Antes de mais nada, é importante ter em mente o que significa trabalho em suas diversas interpretações. Em sua forma mais clássica, o trabalho dos homens e mulheres se diferencia dos outros animais por podermos planejar, refletir e construir na mente a ação antes de colocá-la em prática. O trabalho pode ser entendido como um mero “ganha pão”, algo penoso que se faz em troca de outros objetivos a partir do esforço pessoal, por outro lado, o trabalho também pode ser compreendido como algo que nos estimula, nos faz crescer e que nos torna melhores na nossa condição humana no mundo. Cada perspectiva depende de como o trabalho é realizado, quais as condições, épocas e liberdade que existe ao desempenhar o trabalho. O trabalho é também um direito de todo cidadão e muitas das conquistas sociais que temos hoje é fruto da luta dos trabalhadores e trabalhadoras organizados por melhores condições de vida.
Atualmente é possível situar algumas perspectivas de realizar o trabalho:
Trabalho assalariado, com carteira assinada em que existe uma relação de emprego com um patrão, aonde o empregado realiza seu trabalho seguindo as ordens de seu chefe e em troca disso recebe um salário mensal e tem garantidos seus direitos de trabalhador ou trabalhadora, ou seja, férias, 13o, FGTS e INSS. Neste caso existe a subordinação do empregado com o chefe e é necessário seguir um ritmo de trabalho e atividades que são determinadas por este. Assim, a relação com o trabalho não é livre e autônoma, o produto do trabalho não fica com o trabalhador, mas com o dono da empresa na qual se trabalha, o qual também pode admitir ou demitir trabalhadores de acordo com a situação da empresa ou da economia.
Trabalho autônomo, ou seja, a pessoa trabalha por conta própria organizando seus horários e a gestão do seu trabalho com quem vai prestar um serviço ou produção. Neste caso é possível fazer o registro como autônomo, por exemplo, como microempreendedor individual (MEI), contribuindo para o INSS, o que lhe garante aposentadoria, auxílio-maternidade e doença. Ou mesmo, trabalhar sem o registro de pessoa jurídica, informal, o que é muito comum em nossas cidades. No geral, o trabalhador ou trabalhadora determina seu próprio trabalho.
Trabalho como servidor público, a partir do ingresso em um concurso público, em virtude da publicação de um edital pelo setor público. O trabalho segue um regime de acordo com o cargo assumido, seja federal, estadual ou municipal. Aqui existe a garantia de estabilidade no trabalho e dos direitos trabalhistas. No geral, os melhores cargos ficam para aqueles que tiveram condições e oportunidades de estudo para aprovação em uma prova de ingresso no serviço público.
Trabalho associado, a partir de um coletivo organizado que realiza conjuntamente suas atividades e divisão de responsabilidades. As decisões são feitas no grupo, seja ele formalizado, como cooperativa, associação ou mesmo como uma associação entre vários empreendedores individuais, e também um grupo não formalizado, ou seja, informal. O trabalho associado tem maior autonomia e participação dos seus integrantes, que juntos estabelecem seus objetivos, ações e perspectivas, além de compartilharem os resultados do trabalho, com divisão igualitária dos rendimentos ou dos prejuízos. O grupo pode se organizar nos princípios da economia solidária, ou seja, como um empreendimento de economia solidária, e isso pode compreender também que recolham o INSS dos integrantes e outras garantias sociais com os rendimentos do trabalho.

É nesta última forma de trabalho que a economia solidária traz sua proposta de organização para produção e reprodução da vida. Mais do que a busca de recursos para manutenção da vida de forma digna, a economia solidária traz uma proposta de sociedade com base no trabalho associado.

Ela nasce como contraponto à economia capitalista. No sistema capitalista ocorre a exploração do trabalho e dos recursos naturais para atingir o maior rendimento e lucro possível, tendo como consequência a precarização da vida das pessoas e da natureza, gerando desigualdades sociais. Isso porque ocorre a concentração de riquezas e poder nas mãos de poucos, a chamada classe dominante, sustentada pelo trabalho de muitas pessoas que tem apenas sua mão de obra para oferecer, formando a classe trabalhadora.
Entendemos que a vida se organiza em sociedade e que, portanto, problemas sociais como desemprego, pobreza, fome e violência não são problemas meramente individuais, mas da forma como estamos organizados em sociedade, cujo papel do Estado e dos governos é também fundamental.

As manifestações nas ruas do país a partir de junho deste ano, tendo como principais protagonistas os jovens, trazem esperanças de que nosso futuro pode ser melhor, sinalizam que a nossa sociedade não está acomodada a tantas injustiças e desigualdades. A economia solidária se soma a estas mobilizações e a maior integração da juventude nas práticas solidárias amplia o alcance e a força desta mudança social.

A economia solidária cresce em iniciativas de resistência e criatividade para resgatar valores e práticas sociais que valorizem o trabalho e a satisfação das necessidades humanas, promovendo e preservando o meio ambiente e relações humanas com solidariedade e cooperação. Tais práticas requerem mudanças que partem deste o nível individual, a organização local, nacional e até o nível mundial. É importante ter em mente que muitos passos já foram dados, e a economia solidária é hoje uma realidade para milhões de pessoas que buscam produzir, consumir e viver com maior distribuição de riquezas e direitos. E ainda, na sua organização enquanto um movimento social organizado tanto nacional, quanto internacional.

A autogestão é um dos pilares centrais das práticas solidárias, exercida nas decisões coletivas, no direito à fala e opinião de cada integrante, respeitando e valorizando as diferenças entre as pessoas para exercitar o bem comum. Nestas práticas não existe a divisão entre trabalho intelectual e trabalho braçal, mesmo que hajam conflitos no grupo, o que é normal, a busca é que haja uma negociação em decisões coletivas.
Os empreendimentos de economia solidária são a principal expressão das práticas solidárias e tem como características principais:
• São coletivas (singulares e complexas), tais como associações, cooperativas, empresas autogestionárias, clubes de trocas, redes, grupos produtivos informais e bancos comunitários.
• Seus participantes ou sócias/os são trabalhadoras/es dos meios urbano e/ou rural que exercem coletivamente a gestão das atividades, assim como a alocação dos resultados.
• Podem ter ou não um registro legal, prevalecendo a existência real. A forma jurídica não é o mais fundamental, mas sim a autogestão.
• No caso de associações sem fins lucrativos, estas devem possuir atividade(s) econômica(s) definida(s) em seus objetivos.
• São organizações regulares, que estão em funcionamento, e organizações que estão em processo de implantação, com o grupo de participantes constituído e as atividades econômicas definidas.
• Realizam atividades econômicas que podem ser de produção de bens, prestação de serviços, de crédito (ou seja, de finanças solidárias), de comercialização e de consumo solidário.
• Respeitem os recortes de gênero, raça, etnia, geração, orientação sexual, grupos socais minoritários como comunidades tradicionais e de fundo de pasto, quilombolas, indígenas, ribeirinhos, portadores de necessidades especiais; que abominem toda a forma de violência contra mulheres, crianças, índios, negros:as; e que contemplem a dimensão ética em suas ações e atividades.
• Consideram o direito de trabalhadores/as e não exploram o trabalho infantil, considerando exploração o trabalho forçado e coagido e não a transmissão de saberes tradicionais entre pai, mãe e filhos na agricultura familiar.
• Valorizam o compartilhamento, entre homens e mulheres, do trabalho reprodutivo e do cuidado com as pessoas.
• Ajam corretamente com critérios ambientais nas suas atividades econômicas, buscando a priorização da conservação ambiental e o desenvolvimento humano.

Para ter uma melhor ideia, os empreendimento de economia solidária exercem atividades na cultura, (como grupos de teatro, dança, música) software livre, cooperativas de agricultores familiares, grupos de produção de costura, alimentação, reciclagem, artesanato, serviços especializados, produção de móveis e eletrodomésticos e muitos outros.
Muitos destes se organizam em redes e em articulações que fortalecem e ampliam sua organização e sustentação.
Envolva-se!

Oferecemos a música Latino América – Calle 13, uma linda mensagem para o mundo em que vivemos! acesso em: http://www.youtube.com/watch?v=DkFJE8ZdeG8

Convidamos tod@s @s jovens a vivenciarem as práticas da economia solidária! Seja no consumo responsável, na sua alimentação com saúde, na sua organização comunitária, no seu trabalho. E que esta coluna levante novos horizontes para sua vida!


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