Por Rodrigo Souza.
O lado "A" desta suposta "verdade", promove
que "VOCÊ" precisa vencer na vida, e para isto é necessário ter mais
coisas, não importando que saibamos (pois não é divulgado) de que forma é
produzido, ou seja, quais são os princípios éticos em que são extraídos ou
processados estes produtos.
Em varias pesquisas recentes, mostra que estamos cada vez mais
fragilizados devido as doenças (geradas pelo próprio sistema) que nos tira a
energia e nos deixando depressivos, cansados, desiludidos, etc., então, o meio
mais prático de forçar a adquirirmos estes produtos é mexendo com os nossos
sentimentos nos enfraquecendo e nos apontam a solução por meio do consumo, assim gerando uma relação bem próxima.
Quem faz este papel de
convencimento são os meios de comunicação, principalmente os canais de TV, que
por meio de suas programações (propagandas, novelas, jornais, reality shows,
etc.) geram uma ilusão de fácil acesso a lugares, produtos e serviços,
maxificando que o "mundo do consumo" é uma das melhores formas de
sentir prazer e se estabelecer em um status dentro da pirâmide da
sociedade.
O lado "B" deste mesmo meio de comunicação tenta nos
convencer que não vale apena lutar coletivamente e que não levaremos vantagem
nenhuma (isto quer dizer que não teremos lucro individual) com esta atitude de
ser liderança. Para isto promovem que os espaços sociopolíticos são âmbitos de difícil
acesso e que quem consegue ocupar estes espaços se torna uma pessoa não confiável,
ou até mesmo criminosa.
Resumindo, o lado "A" quer a qualquer custo aproximar
as pessoas do consumismo e o lado "B" afastar as pessoas do papel de
cidadão/ã atuante. Desta forma menos se pergunta por que das coisas e mais se pode
manipular, assim estas empresas mantem seus lucros e poder de controle sobre a
sociedade.
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Ao longo dos últimos dez anos a disputa de princípios, na esfera da
política, tornou-se mais complexa. Os argumentos tradicionais estão
bloqueados por um senso comum formatado por uma repetição de “verdades”,
cuja aceitação não se fundamenta em fatos ou provas, mas é criada pelo
martelamento permanente, repetitivo, de “informações” que são passadas
como se não precisassem de argumentação minimamente lógica. O fazer
político e o discurso político, hoje, devem partir do pressuposto que o
senso comum já está “trabalhado pela grande mídia” para formar
“pré-conceitos” sobre todos os temas relevantes do país e do mundo.
Repito o que disse em outras oportunidades: quando falo em “grande
mídia”, não estou me reportando a qualquer órgão de imprensa, em
particular, nem a um ou outro jornalista, sejam eles manipuladores ou
não das informações que transitam nas suas colunas ou matérias.
Reporto-me ao produto “matéria informativa”, no mercado da notícia, que é
fabricado para ser assimilado pelo senso comum, ou por parte dele, como
conjunto que passa a circular de forma dominante, como verdade, na
“grande mídia” nacional.
Assim, Chavez que ganhou sucessivas eleições na Venezuela e sofreu
uma tentativa de golpe de Estado quase concretizada, passou a ser um
“ditador”. Lula, que fez o governo mais democrático e avançado do país -
em termos de progresso econômico, distribuição de renda e soberania
nacional- nos últimos 50 anos, passou a ser retratado como um Presidente
tosco, que teve a sorte de surfar nas boas ondas da economia mundial. A
corrupção no Estado é apresentada sempre (e quando ela passou a ser
mais combatida e por isso se tornou mais evidente) como uma “novidade”,
ligada principalmente ao PT (mesmo quando os sacerdotes da moralidade
pública são desnudados por inteiro e não são nem do PT, nem da
esquerda).
Ao lado desses macro-eventos, alinham-se outros. Por exemplo, a
deposição do ministro Orlando Silva, do PC do B, que é exposto
cinicamente como participante de um esquema de corrupção, humilhado
publicamente pela “grande mídia” perante o país e a sua família, sem
qualquer cuidado com a verdade, e sobre o qual hoje não pende nenhum
indício de culpa. O serviço - a chacina -, porém, foi feita de forma
meticulosa, certamente respondendo a interesses econômicos e políticos
obscuros.
Neste momento, a “grande mídia” atravessa um período de esforço para a
legitimação da deposição golpista do Presidente Lugo. Abre, assim, um
precedente perigoso no debate sobre o futuro das democracias na América
Latina, que lembra os anos 70.
Os métodos são outros, mas os objetivos e os efeitos são os mesmos:
travar reformas progressistas e roubar esperanças de mudanças dentro da
ordem. Pode, uma maioria parlamentar, -mesmo legítima em termos
eleitorais - promover a deposição sumária de um Presidente por “não
cumprir adequadamente” as suas funções, sem direito a ampla defesa e sem
mesmo um esboço de prova?
Ao aceitarmos como “normal” a deposição do presidente Lugo, qualquer
maioria (seja qual for sua posição política) poderá interromper mandatos
sem obediência a regras que presidem qualquer Estado Democrático de
Direito, estimulando o desapreço do povo à democracia política. A
naturalização da deposição de Lugo está sendo meticulosamente trabalhada
para passar ao senso comum que ela foi um ato legítimo.
Há um outro aspecto interessante no movimento da mídia. Aquele que
elege a “personalidade da vez”. Até há pouco tempo este era o Senador
Demóstenes, que seria o contraponto à “herança Lula”. Pela sua probidade
e intransigência em relação à corrupção, era considerado também um
modelo ideológico, capaz inclusive de promover uma pauta bombástica (e
falsa), como aquela que a Polícia Federal estaria gravando diálogos seus
com o ex-presidente do STF, Gilmar Mendes, que, na oportunidade,
mostrou-se justamente indignado.
Ministro da Justiça naquele período, considerando o pedido do
ministro Gilmar que presidia o STF, determinei uma investigação rápida e
profunda, que não localizou nenhuma escuta ilegal. Não seria Cachoeira o
autor do grampo? Não seria falsa a degravação apresentada? Eis uma
investigação suplementar que a PF deveria reabrir neste momento.
Atualmente, a figura mais promovida pela mídia é o senador Randolfe
Rodrigues, do PSOL do Amapá. Assim como já foi, em outras oportunidades,
a senadora Heloisa Helena, quando as suas diatribes udenistas serviam
para a tentativa de desestabilização e promoção do fracasso do primeiro
governo Lula. Ela era apontada pela mídia, naquela oportunidade, como
exemplo de coerência política e consciência ideológica da esquerda e
atraiu, pelo seu discurso radical contra Lula, o apoio e o voto de
colunistas de jornais conservadores, ex-esquerdistas, que se
autoproclamavam autênticos justiceiros do PT.
Buscava o governo, naquele momento difícil - não sem erros - dar
estabilidade a uma maioria parlamentar para implementar um programa de
crescimento econômico e melhoria na distribuição de renda, que hoje
orgulha toda a nação. O senador Randolfe, portanto, que se prepare, pois
quando ele se ocupar em esboçar alguma defesa coerente do programa
socialista do seu partido, será também sumariamente despedido dos
grandes noticiários e das colunas que hoje lhe cortejam, a medida que já
terá sido devidamente utilizado pela “grande mídia” para que este
purgue o seu amor a Demóstenes.
Diante deste cenário, sustento que os partidos de esquerda devem
elaborar suas agendas estratégicas não exclusivamente pelo que está
sendo retratado ou exigido pela “grande mídia”. A informação, na
sociedade democrática, é também parte de uma guerra pelo mercado e a
produção da notícia nem sempre corteja a verdade, mas quase sempre está
orientada pela busca o aumento do número de consumidores da notícia.
Os dirigentes políticos da esquerda precisam compreender que o
interesse dos veículos de comunicação pela polêmica - por razões
comerciais - é muito maior que o interesse por debater os grandes temas,
capazes de moldar um futuro melhor para o país. Só assim, com a defesa
de agendas autônomas e de interesse público, como a reforma política, o
verdadeiro e indiscriminado combate à corrupção, a crise européia e o
fracasso neoliberal, poderemos nos libertar da sedução momentânea dos
holofotes e não estaremos sujeitos às armadilhas midiáticas, que são
colocadas frequentemente só para disputar o “mercado” da notícia. Não
para informar e preservar a verdade.
(*) Governador do Estado do Rio Grande do Sul
Publicado originalmente na
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=20588 19/07/2012